Uma das partes tristes em ter um negócio é ser fisgado por uma oportunidade e, depois, descobrir que aquela decisão foi o primeiro passo para o fim da sua empresa, que mal está nascendo. Ainda piora mais se sua intenção for abrir empresa ou se você precisa destravar a empresa. Foi assim que descobri o Black Label. Não foi bebendo o famoso whisky, mas por causa de uma análise superficial que um amigo fez.
O que é Black Label e White Label
Para entender isso, primeiro precisamos entender o que é um White Label. O exemplo mais comum é quando vamos no supermercado e encontramos o mesmo produto sendo vendido com a marca do fabricante ao lado de outro igual, até com a mesma embalagem, mas com o rótulo do supermercado. O nome disso é White Label. O fabricante entrega para o supermercado o mesmo produto, mas com a marca do supermercado. Mesmo não sendo especialista, notei que o controle de qualidade da marca do supermercado é constante, mas o do fabricante na sua marca original nem sempre é tão fiel, porque não existe um contrato de como ele deve ser.
Existe um contrato entre fabricante e supermercado que diz exatamente como o produto deve ser. Então esse produto não muda com o tempo, como acontece com as marcas originais. Isso é assim porque quem manda no produto é o fabricante. Mas não manda muito porque é limitado por definições do contrato, mas que respeitam exatamente o que o fabricante já fazia.
O Black Label é a mesma coisa, só que ao contrário. O fabricante para de usar sua própria marca e o supermercado é quem determina como o produto deve ser e contrata quem irá fazer isso, sem que este consiga se posicionar no mercado. Ou seja, quem manda nessa forma é o supermercado. Ele é quem diz o que o fabricante irá fornecer e se este não fizer daquele jeito, está fora do negócio.
Exemplos que você precisa acompanhar se vai abrir empresa ou quer destravar a empresa
Não basta entender esses nomes – black ou white – tem que ver como isso está acontecendo no mundo real agora. Veja esses 2 exemplos:
Exemplo de Black Label no transporte
No caso do Uber, os clientes de um ponto de taxi não ligam mais para ver se existe algum taxi disponível e vai caminhando até o ponto. Por outro lado, o cliente simplesmente usa o aplicativo para saber em quanto tempo deve estar na porta da rua. Por causa disso, os taxistas que antes trabalhavam exclusivamente naquele ponto de taxi perderam seus clientes. E assim, o valor comercial daquele ponto de taxi, que já chegou a custar mais do que um carro zero quilometro, agora não tem mais nenhum valor.
O taxista deixou de ser um dos proprietários do seu negócio que era o ponto de taxis e virou um motorista de aplicativo. Como resultado, tornou-se apenas mais um no meio de tantos outros. Provavelmente ele irá preferir abrir mão do status de ter um taxi para faturar muito mais sem as obrigações de taxista como motorista de uber, mas não será mais o proprietário do seu negócio como antes.
Exemplo de Black Label na alimentação
No caso dos restaurante isso está ficando muito mais claro. Ainda mais porque os pequenos restaurantes estão em uma situação bastante difícil agora porque não vendem mais como antes.
Mas o que fazer com suas cozinhas industriais? Porque não aceitar fazer o que o ifood encomendar? Por causa dessa situação é que está nascendo o Black Label da Ifood: o cliente compra o prato fornecido por ela mas fabricado pelos seus “colaboradores” ou escolhe alguma marca de restaurante da sua preferência.
E o cliente, como fica?
O cliente continua podendo escolher e até com vantagens. Isso acontece porque a briga desleal de preços vem junto com o Black Label. No caso dos restaurantes, ficará difícil competir com a empresa que comanda a produção (ifood) e que dita quais pratos serão vendidos e a que preço. E, no caso dos taxis, os donos de carro abandonarão seu status de taxistas para assumirem apenas a função de motorista de aplicativo. Mas, depois também serão pressionados a baixar seu preço por corrida.
Os donos de carros e restaurantes perdem, com o tempo, a sua marca e credibilidade em nome da sobrevivência. Perdem o poder de negociar seus preços. Enfim, passarão a ser parte de uma cadeia produtiva em que seu poder de negociação foi diluído.
Para o cliente tudo isso é bom, porque o preço final dos serviços e produtos irá cair. Mas, ele não percebe que isso é passageiro. Assim que o mercado estiver dominado pelas grandes marcas intermediárias, o preço irá subir porque elas é que irão comandar os preços. E, para piorar, sua capacidade de voltar a competir não existirá mais porque seu preço será mais caro e sem competitividade.
Como abrir empresa competitiva para enfrentar esses problemas?
Como todo negócio, a necessidade de sobreviver é maior que tudo. O seu negócio não é o único que pode sofrer esse tipo de manipulação dos canais de vendas. Se você vai abrir empresa ou está trabalhando para melhorar seu negócio, é preciso estar atento a esses problemas. Mas, é possível minimizar o impacto desse problema se você tomar as seguintes providências
Converse com seus clientes atuais para entender exatamente o que eles pensam. Faça listas sobre o que ele quer, o que precisa, espera e sonha em cada atendimento. Não deixe de fazer também a lista com as suas frustrações, seus medos, ansiedades que cada atendimento pode provocar.
Com a primeira lista, escolha quais são os ganhos mais importantes e frequentes. Na segunda lista, procure achar quais são os mais relevantes e frequentes também.
Entre todos eles, dê preferência para as dores que você descobriu na segunda lista. Veja se você consegue oferecer seus serviços ou produtos focando exatamente naquelas dores que o cliente dá mais importância e que são frequentes.
Esse é um jeito simplificado da Teoria Job to Be Done, que é usada por startups do mundo inteiro para atender melhor seus clientes e conquistar mercados. Por causa desse uso em todo o mundo é que essa tática pode ser uma boa forma de enfrentar os Black Label. Ah, sim, você pode, talvez, tomar uma dose de Black Label, mas isso é outra estória.
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