Aprender Fazendo: O Ciclo de Kolb e o Poder do "Ah-ha!" em jogo de empresas
- Luiz Antonio Titton
- 9 de jul.
- 5 min de leitura
Na era da informação, aprender não é mais apenas uma questão de decorar conteúdos. É preciso compreender, aplicar, testar e evoluir. E nesse cenário, o Ciclo de Aprendizagem Experiencial de David Kolb se destaca como uma poderosa ferramenta para entender como, de fato, aprendemos. O Jogo da Sede é um jogo de empresas onde esse modelo é o fundamento da aplicação.

O que é o Ciclo de Kolb?
David Kolb propôs que a aprendizagem ocorre por meio de um ciclo contínuo, no qual o conhecimento é construído a partir da experiência. O modelo é composto por quatro etapas que se retroalimentam:
1. Experiência Concreta (Fazer)
É o momento em que o indivíduo vivencia uma situação real ou simulada. Pode ser uma atividade prática, um jogo, uma conversa ou qualquer ação direta que gere envolvimento.
Exemplo: Um aluno participa de um jogo de simulação empresarial e toma decisões como gestor de uma empresa fictícia.
2. Observação Reflexiva (Observar)
Depois da experiência, vem a análise. O que aconteceu? O que deu certo? O que poderia ter sido diferente? Aqui, o aprendiz observa e reflete sobre os resultados e os comportamentos envolvidos.
Exemplo: O aluno analisa os relatórios do jogo, percebe que teve lucro baixo e começa a refletir sobre o motivo.
3. Conceitualização Abstrata (Pensar)
Nessa etapa, o indivíduo busca compreender a experiência à luz de conceitos e teorias. É quando liga os pontos e entende as causas e consequências das ações.
Exemplo: O aluno conclui que errou na previsão de vendas e liga isso à teoria de planejamento estratégico.
4. Experimentação Ativa (Aplicar)
Com base nos aprendizados anteriores, o indivíduo testa novas estratégias. Ele aplica o que aprendeu, corrigindo ou aperfeiçoando sua atuação.
Exemplo: Na rodada seguinte do jogo, o aluno ajusta sua previsão e muda o preço do produto.
Essas quatro fases formam um ciclo contínuo: cada nova aplicação gera uma nova experiência, que será observada, refletida, compreendida e testada novamente.
O momento "Ah-ha!"
Durante esse ciclo, existe um momento especial — muitas vezes espontâneo — que chamamos de momento “Ah-ha!”. É aquele instante em que a compreensão acontece de forma clara e repentina. Quando "cai a ficha".
Esse insight geralmente acontece na fase de conceitualização abstrata, quando o aprendiz conecta sua vivência a um conceito ou teoria que faz sentido para ele. E, justamente por surgir de uma experiência pessoal e prática, esse tipo de aprendizado é duradouro.
Exemplo: "Ah! Agora entendi... Meu estoque ficou alto porque não ajustei a previsão de vendas!"
Esse momento é poderoso porque representa uma mudança real na forma de pensar. A pessoa não apenas aprendeu algo — ela compreendeu de verdade.
Por que isso importa para a educação e o desenvolvimento profissional?
O Ciclo de Kolb favorece uma aprendizagem ativa, crítica e profunda.
Permite que o conhecimento seja construído de dentro para fora, com base na experiência e na reflexão.
Estimula a autonomia do aprendiz.
Gera aprendizados com sentido e propósito.
Em ambientes corporativos, educacionais e até familiares, aplicar o ciclo de Kolb com intencionalidade pode transformar treinamentos, projetos e vivências em experiências verdadeiramente educativas.
Aprender com os próprios erros — e acertos
No fundo, o que o ciclo de Kolb nos ensina é que aprender não é um processo linear, nem passivo. É uma jornada. E os momentos "Ah-ha!" são as luzes que nos mostram que estamos no caminho certo.
Portanto, se você quer aprender de verdade — ou ensinar de forma significativa — comece criando oportunidades para experimentar, refletir, pensar e aplicar. O resto, o cérebro faz por conta própria.
O Jogo da Sede e o "Ah-ha!" na prática de jogo de empresas
Um dos exemplos mais eficazes de aplicação do ciclo de Kolb é o Jogo da Sede, um jogo de simulação empresarial criado com o objetivo de desenvolver competências de gestão, estratégia e trabalho em equipe em um ambiente lúdico e desafiador.
Nesse jogo, os participantes assumem papéis diretivos em uma empresa fictícia de refrigerantes e tomam decisões a cada rodada — envolvendo produção, marketing, finanças, recursos humanos e operações.
Após centenas de aplicações em escolas, universidades e programas de formação, foi observado um padrão muito consistente:
O momento “Ah-ha!” ocorre com mais força e clareza na quarta rodada.
É nessa fase que os participantes conseguem conectar plenamente suas decisões anteriores com os resultados obtidos, interpretam os relatórios com mais autonomia e começam a aplicar conceitos de forma consciente. Em outras palavras, é quando a aprendizagem experiencial atinge seu ponto de virada.
Por esse motivo, o Jogo da Sede incorpora arranjos didáticos estratégicos ao redor da quarta rodada: momentos de pausa reflexiva, mediação com apoio teórico, comparação entre equipes e feedback estruturado. Tudo isso para potencializar o impacto do insight, consolidando o aprendizado de forma significativa e duradoura.
O Jogo da Sede, portanto, não é apenas uma ferramenta lúdica — é uma aplicação planejada e eficaz do ciclo de Kolb, comprovada em prática e construída para transformar a experiência em conhecimento real.
Além disso, o jogo tem se mostrado altamente adaptável a diferentes faixas etárias e contextos educacionais. Em turmas do ensino médio, ele desperta engajamento imediato e senso de protagonismo. Já em programas de educação corporativa, ele favorece a construção coletiva de soluções e a integração entre áreas. Em ambos os casos, a lógica do "errar para aprender" é acolhida de forma natural, permitindo que os participantes experimentem sem medo de falhar.
Ao final da experiência, muitos participantes relatam que o jogo os ajudou a compreender, de forma concreta, conceitos que antes pareciam distantes ou abstratos, como margem de contribuição, planejamento de produção, precificação e fluxo de caixa. Isso mostra que o valor do jogo não está apenas na ludicidade, mas na sua capacidade de gerar aprendizado profundo, contextualizado e transformador.
A NewisCool, os jogos de simulação e o aprendizado por experiência
A NewisCool é uma empresa especializada no desenvolvimento de jogos de simulação educacional, com foco em transformar experiências em aprendizado real. Com décadas de atuação, seus jogos são utilizados em escolas, universidades, empresas e projetos educacionais em todo o país.
Um dos lançamentos mais recentes é o Jogo do Síndico, voltado à capacitação de moradores, síndicos e conselhos em condomínios residenciais, permitindo que aprendam sobre administração, prestação de contas e resolução de conflitos em um ambiente simulado e realista.
Antes dele, a empresa desenvolveu o Jogo da Sede, um simulador empresarial de ampla aplicação em escolas e universidades, que foca no desenvolvimento de competências empreendedoras. Esse jogo é utilizado desde a década de 1980 e já passou por três versões ambientadas, sendo atualmente uma referência em simulação de negócios.
O sucesso desses jogos está diretamente ligado ao modelo de aprendizagem experiencial que utilizam — em especial, o Ciclo de Kolb, que é explicado neste artigo.




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