É comum que empresários incluam membros da família nos negócios e isso tem o enorme potencial de criar situações difíceis que irão levar a uma escolha: o negócio ou a família. Por isso, antes de ter qualquer intenção de incluir a família nos negócios ou vice-versa, alguns fatores devem ser pensados com muita dedicação. Esses problemas tendem a se agravar nos momentos de dificuldades da empresa ou quando a empresa pretende crescer. Ao final, se há crise na empresa, o empresário terá que optar entre trocar de família, fechar o negócio ou engajar a família.
Quando a empresa entra em crise ou pretende crescer, o empresário pode ter a necessidade de ter o apoio da família ou ela pode se oferecer para ajudar. Esse apoio pode ser a de diminuir os gastos familiares, ter paciência com a ausência do empresário em casa e dar o apoio moral para o esforço do empresário. Mas, poderá surgir a situação em que a família pressiona o empresário a dar resultados concretos, com aumento das retiradas para os gastos familiares – isso aumenta a pressão que já existe sobre o empresário e causa transtornos que afetam seu desempenho nos negócios.
Outra situação é aquela em que a família entra no negócio para ajudar – aí alguém ou vários entram na empresa com essa intenção, mas podem assumir a atitude de que o empresário não foi competente e engajado o suficiente. Esse tipo de engajamento da família ou de apenas um membro da família deve ter uma recíproca compatível da parte do empresário: tempo definido ou sociedade. O tempo definido é para que a ajuda tenha um fim, ou seja, ao final de um prazo o empresário deve retirar o parente para que não se perpetue a relação que tende a se desgastar com o tempo.
Na sociedade, seria admissível o cônjuge apenas, já que esse já faz parte da empresa por direito derivado do casamento; os demais parentes irão causar problemas vistos adiante.
No caso do cônjuge, se não houver harmonia no casal, a probabilidade de crise entre negócio e família, ou em uma delas, é total. Então, o empresário deverá, em algum momento, optar entre retirar a família da sua vida (divórcio) ou fechar a empresa literalmente.
No caso de filhos, o problema é grave: se os filhos nunca trabalharam, irão cometer os piores erros e comportamentos na sua empresa, e não será percebido como o patrão, mas como o pai e a relação será difícil. O melhor é fazer como muitos empresários fazem, empregue-o nos seus concorrentes para que aprenda sobre o ramo de atividade e amadureça como profissional. Só os contrate quando estiverem maduros.
Em um caso recente, o empresário optou pela família, após uma tentativa de engajá-los no negócio, entregou a empresa pelo valor dos estoques para os seus empregados e abriu uma nova firma com o filho – pelo que me consta, estão todos felizes. Em outro caso, o empresário divorciou-se e não foi feliz, acabou em um novo relacionamento infeliz. Em uma situação interessante, o empresário retirou a esposa da sociedade e ela entendeu que aquilo era um sinal de intenção de divórcio e agiu nessa linha – o relacionamento acabou. Enfim, se é para incluir alguém no negócio, que seja no máximo o cônjuge se este estiver realmente engajado com a finalidade de consolidar a família, ou os filhos, se estes já estiverem maduros o suficiente para assumir os negócios.
Contratar parente ajuda a recuperar empresa em dificuldade?
Ter um parente na empresa deve sempre significar que ele deve ter um prazo de mandato. A ideia por trás disso é que se ele é parente supostamente é alguém que pretende criar riqueza junto com todos e, por isso, deve adquirir habilidades em todas as áreas. Existe também a questão de que um parente é mais difícil de ser retirado da empresa por incompetência (ou outro motivo qualquer) e isso poderá pressionar para o fracasso empresarial. A ideia do mandato elimina esse problema e facilita que se discuta qual foi o parente ou empregado que melhor desempenhou uma posição trazendo mais resultado para a Empresa.
Parentes acomodados ou incompetentes
Pelo fato de que o membro da família sentir-se como parte da empresa, o empresário espera que o parente se dedique vestindo a camisa com engajamento diferenciado e acima dos demais empregados. Mas, nem sempre é assim, o familiar pode sentir-se um escravo do trabalho sendo que isso não deveria ser dessa forma, afinal o fulano é meu parente…
O parente empregado espera que o empresário se dedique além das suas atividades de empreendedor. Assim, um pode começar a ver o outro como um acomodado, porque usa a relação familiar para não se dedicar mais do que qualquer outro na empresa. E, também, julga-o como incompetente porque não faz o que deveria fazer na forma como ele pensa ser o correto. A crise na empresa terá reflexos nas relações familiares e irá polarizar as discussões contra e a favor de cada uma das partes.
Os familiares sempre irão encarar os compromissos como algo não real. Afinal, é um parente pedindo algo, não um patrão indicando o serviço a ser realizado. Assim, o desempenho será sempre comprometido pela atitude que é aceita ou tolerada entre familiares.
Mantenha claro, desde o início, que existe uma linha muito séria separando família e empresa. Isso deve sempre ser lembrado ao familiar porque você não deseja que as relações se misturem.
Se você chegou nesse ponto, de ter contratado um familiar e ele não ter o desempenho adequado, você deve dar o indicativo de que uma empresa de Recursos Humanos irá fazer uma avaliação do quadro de empregados para estudar uma promoção ou identificar quais estariam com desempenho que é insuficiente para o crescimento ou recuperação da empresa.
Contratar parente é dar emprego privilegiado?
Se você colocar seu familiar como um empregado raso, deverá exigir dele um desempenho idêntico ao de outro empregado no mesmo nível. Mas, se você for mais leniente com erros por ser familiar ou der alguma preferência a ele, você será nepotista. Seus outros empregados irão se sentir menos valorizados e sua empresa tende a ter um clima organizacional de baixíssimo engajamento. Vale a pena passar por isso?
De qualquer forma, as emoções sempre estarão à flor da pele – é difícil corrigir alguma tarefa ou atitude de um empregado familiar porque sempre poderá ser levado para o lado pessoal, não o de empregado, que de outra forma simplesmente aceitaria a orientação.
Se você não encontrou uma saída e foi pressionado a contratar um parente, é importante deixar muito claro para toda a família que ele trabalha na empresa e como qualquer outro empregado será avaliado e se não tiver boa avaliação corre o risco de ser demitido. A justificativa é a famosa auditoria externa, que mesmo que não exista serve como uma força maior que pode recomendar a demissão. Essa auditoria externa é aquela que vai avaliar o alto nível de profissionalismo da sua empresa durante os últimos 3 anos para que a empresa suba no patamar de avaliação de risco. Pode até ser verdade, mas soa como uma boa justificativa.
A negociação na empresa com o empregado parente
Qualquer negócio sempre passa por processos rotineiros ou não de negociação. Eles acontecem tanto com terceiros como internamente na empresa. Quando um membro da família é a outra parte e está fazendo frente ao empresário, os comportamentos e atitudes no ambiente de família influenciam a negociação dando vantagem a uma das partes e deixando a outra parte com a necessidade de contrabalançar a desvantagem durante a negociação. Isso vale tanto quando o familiar é empregado como quando ele é um sócio na firma.
Enfim, uma das partes leva vantagem na negociação, mas ambos podem ter a sua relação familiar afetada pela forma como a negociação foi conduzida. A relação familiar afetada realimenta o desgaste da relação interpessoal e esse círculo vicioso irá desgastar a relação até um eventual ponto de ruptura. Nos atritos, a paixão de cada um pela sua opinião quase sempre é tomada pelo lado pessoal, e não pelo melhor para a empresa no ponto de vista do empresário.
Não é difícil ver familiares empregados dando demonstração de emoções e sentimentos no trabalho em situações difíceis. O choro é mais comum entre as mulheres enquanto que a violência física é entre os homens. Mas, se você chegou nessa situação de ter que negociar algo do trabalho com um familiar empregado e for uma questão delicada, o melhor é ter isso estabelecido antes em manual de procedimentos internos.
Se não tem um, é hora de pensar desde já e começar a fazer.
Despedir o parente para recuperar empresa
Se o empresário demite um familiar, nunca mais a relação em família com ele será igual. Pode até acontecer que o familiar termine por nunca mais manter qualquer relacionamento, até mesmo em festas familiares com ele.
Quando um cliente de consultoria despediu o filho, criou-se uma situação muito difícil entre eles. O motivo é que o filho descobriu como desviar parte do caixa da empresa e ensinou um empregado a fazer isso sem ser percebido. Resultado? Perdeu um bom empregado e criou mais um problema com o filho.
Por outro lado, como você irá explicar a demissão do seu sobrinho? Irá contar o que ele fez errado e deixá-lo em situação difícil ou irá dizer que você não o quer lá porque você tem outro motivo. Sempre haverá a polarização na família contra e a favor de você.
De qualquer modo, o importante é ressaltar a todos que o problema que causou a demissão foram problemas técnicos e explicar claramente ao familiar que está sendo desligado do quadro de empregados justamente porque não atendeu aos padrões mínimos exigidos. Para isso, você deve ter uma descrição do cargo e mostrar para ele quando iniciou no emprego e quando sair, também. Então a receita para esse problema é: contrate com critério definido (se ele não serve, não será contratado), avalie com critérios claros e comuns a todos empregados (não vai reclamar porque é a regra da empresa) e demita nos parâmetros estabelecidos para a função.
Nepotismo ou confiança
Quando se está querendo tirar a empresa da crise pode passar pela mente do empresário contratar um familiar, afinal quem poderia ser mais confiável do que um parente. Antes de fazer isso, alguns aspectos devem ser levados em consideração.
Nunca um parente será igual a qualquer funcionário. Desde a contratação do parente até a demissão, sempre questões emocionais estarão envolvidas e, sem dúvida, qualquer problema na família será um problema na empresa e vice-versa.
Sugerimos que você medite sobre cada um dos argumentos que são um bom indicativo sobre o porque não misturar negócios com parentes, especialmente quando se fala em contratar um familiar.
Quer algo pior do que renunciar a um bom empregado para contratar um familiar ou um amigo? É um tipo de nepotismo que não é aceitável em uma empresa. Se não é bom para a empresa, é melhor não contratar.
Por outro lado, a situação pior é a de contratar um familiar que é super capacitado para uma função. O problema é que o domínio será tão evidente que a liderança do empreendedor poderá ficar comprometida. E, por ser muito melhor, receberá mais carga de trabalho e você o induzirá a ficar sobrecarregado e terá um empregado insatisfeito.
Sempre haverá algum parente pedindo para contratar alguém da família. A melhor solução para isso é explicar que, por causa dos auditores, você é obrigado a ter a aprovação do currículo do candidato junto com anotações a entrevista para eles avaliarem. Não importa se você realmente tem auditores, mas é uma justificativa aceitável até mesmo porque dá a sensação que seu negócio é altamente profissionalizado e que está dando uma chance para o seu parente. Você pode até dizer que no seu ramo de negócio isso é essencial, ou então que precisa de 3 anos de empresa auditada para avançar no crescimento do negócio.
Contrato de trabalho com parente
Quando contratamos, fazemos um contrato de trabalho. Isso inclui atitudes, comportamentos e desempenho. Mas, ao mesmo tempo que pode ser bom não fazer um contrato de trabalho com o familiar, também é um problema ao se encerrar a relação. Nada impede que um parente acione judicialmente sua empresa depois, mesmo porque a relação de trabalho não vai terminar bem, sempre será levada para o lado pessoal. Recuperar empresa com parente trazendo problemas para a empresa pode ser ainda mais difícil em alguns casos.
Imagine-se na situação de ter um parente que pede para você contratá-lo no seu período de salário-desemprego. Para ele não perder o benefício social, será necessário que ele não tenha registro em carteira. Perante a fiscalização, ele é alguém da empresa, mas depois disso, é legalmente possível que ele acione a empresa para receber os benefícios das leis trabalhistas (INSS, FGTS, férias, etc). Como fica a sua situação perante a família por ter enganado o familiar não pagando os direitos dele? Você acha, realmente, que irão entender que foi ele quem pediu ou irão dar toda a razão para o trabalhador necessitado que você explorou para ter vantagens financeiras?
De qualquer forma, se não foi possível evitar a contratação de um familiar, a melhor solução é o registro tão logo seja possível. Mas, em hipótese nenhuma se deve ter um familiar que não faz parte do quadro de sócios da empresa trabalhando sem registro. Isso é passível de multa trabalhista, além do risco de você não conhecer o suficiente o caráter do seu familiar.
9 motivos para separar família do negócio
Será que existe uma diferença entre seu desempenho como empregado e como empresário? Quais são os motivos para separar a família do seu negócio?
1) A empresa vira cozinha
Os outros empregados e clientes ficarão desconfortáveis de ver a forma como outros são tratados de forma tão íntima. O clima da sua empresa irá se transformar no ambiente de uma cozinha onde os familiares conversam descontraidamente e sem muitas limitações. Isso destrói o clima profissional esperado em uma empresa. Prejudica a produtividade e desempenho ou pode espantar os clientes. Enfim, o ambiente da empresa sempre incluirá tempo, muito tempo, com assuntos familiares a serem resolvidos em detrimento do trabalho em si.
2) Onde se ganha o pão, não se come a carne
Ao trazer para a família ou para a vida pessoal um empregado, o empresário está indo contra esse ditado da sabedoria popular. Veja que situação um cliente de consultoria se meteu: casou-se com uma empregada na sua empresa, mas não sabia que ela tinha uma combinação interna que desviava dinheiro da empresa – imagina a sua situação quando teve certeza disso tempos depois. Em outro caso, começou um relacionamento com o sócio e quando rompeu o relacionamento, a empresa entrou em crise de comando.
3) Onde se come o pão, não se fala de dinheiro
Meu avô, todo o tempo que convivemos, nunca permitia qualquer assunto que se relacionasse com o trabalho na mesa de refeições. É um momento sagrado tanto como deveria ser o quarto, nele não entram eletrônicos que tragam más notícias, como fosse um santuário para o descanso. Isso cria uma barreira entre a empresa e a família, não renuncie a isso.
Concluindo, o melhor é não misturar família e negócio, ou entender que qualquer crise em um deles irá ser problema nos dois. Se tiver que escolher, lembre-se que um bom empreendedor pode começar um novo negócio, mas um excelente ser humano pode sofrer muito até achar um novo amor. Enfim, entre família e melhores amigos ou a empresa, a lição de vida que realmente vale me diz que os primeiros são o que realmente importa. Mas, se o negócio veio antes que a família, pese muito sobre essa situação – a família deve ser repensada em conjunto para explicar que o empresário entrou na família na condição de empreendedor e sua empresa não pode ser afetada pela nova condição.
4) Risco do negócio
É inadmissível um empreendedor que não conheça profundamente o risco do seu negócio. E, no caso de um casal que está no mesmo negócio, ou até mesmo no mesmo emprego, o fim da empresa significa uma verdadeira tragédia financeira. Ambos, provedores da família, estarão com um problema que vai além da empresa e além da família. É um excelente motivo para não concentrar o sustento em uma só fonte.
5) Os sentimentos vêm junto com os empregados
Não há como separar as diferenças de opinião, sentimentos de relações antigas mal resolvidas e preferências entre os familiares e as necessidades da empresa do ponto de vista das tarefas a serem executadas. Os sentimentos irão influenciar a eficiência dos empregados familiares.
6) Intrigas e leniência
Dificilmente seu gerente irá falar sobre o desempenho ruim do empregado porque é seu parente. Sempre existirá a impressão de que você está protegendo ou irá proteger seu parente – isso é parte do nepotismo. A comunicação interna ficará comprometida e não tenha dúvidas que os empregados conversam entre si sobre o desempenho dos “da família”, só você não sabe.
Os fatos negativos da família como brigas e problemas individuais serão levados para a empresa e seus empregados não familiares irão ficar sabendo muito sobre sua vida pessoal e seus pontos fracos. Por outro lado, os problemas da empresa serão alvo de comentários por toda a família. Imagine ouvir de sua tia que a empresa teve queda de vendas em uma festa familiar qualquer – você deu o motivo perfeito para a sogra ter mais algo contra você.
Palpites inocentes
Uma das questões que sempre noto, quando vi familiares na empresa é que estes costumam dar palpites inocentes para o empresário. Se dão esse direito por serem familiares querendo o melhor para a empresa, mas não são os verdadeiros empreendedores que vêm o risco do negócio e o custo das sugestões. O problema é que esses palpites são realmente palpites. Não têm, normalmente, nenhum fundamento ou são baseados em uma visão superficial e sem a vivência que tem o empresário.
7) O familiar é extensão do empresário
Os clientes e outros que se relacionam com o negócio verão, sem dúvida, que o seu familiar é parte da alta cúpula do negócio. Então se fizerem algo errado, não será o empregado familiar que fez, mas a empresa que fez o ato, validada pelo empresário. Assim, o familiar vira uma extensão do empresário.
8) Tempo para pensar
Muitas vezes vi empresários pedindo um tempo para pensar, tanto em casa quanto no trabalho. Na verdade, o empreendedor precisa dos seus momentos de ficar sozinho. É fato que são nesses momentos de não fazer nada (dolce far niente, como dizem os italianos) que a criatividade tem maior potencial benéfico para os empreendedores. Esse tempo sozinho colabora para a inteligência emocional, aumenta a autoestima e avalie melhor as pessoas. Se o seu familiar está o tempo todo com você, isso irá se tornar mais raro na sua vida.
9) Apoio emocional
Com quem o empresário irá desabafar sobre suas angústias e ansiedades. Se isso é feito com o cônjuge, é maravilhoso. Mas, se a relação com a esposa não for tão boa assim e ela for um dos motivos das angústias e ansiedades, o que acontece? Pode ser mais angustiante ainda e, invariavelmente, o empresário acaba por buscar o que não encontra em casa noutro lugar.
Conclusão
Se existe a necessidade de ter parentes na empresa é inegável que deve haver um acordo muito bem pensado e justo.
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